Deixai que a vida sobre vós repouse

Deixai que a vida sobre vós repouse

qual como só de vós é consentida

enquanto em vós o que não sois não ouse

erguê-la ao nada a que regressa a vida.

Que única seja, e uma vez mais aquela

que nunca veio e nunca foi perdida.

Deixai-a ser a que se não revela

senão no ardor de não supor iguais

seus olhos de pensá-la outra mais bela.

Deixai-a ser a que não volta mais,

a ansiosa, inadiável, insegura,

a que se esquece dos sinais fatais,

a que é do tempo a ideada formosura,

a que se encontra se se não procura.

Poema de Jorge de Sena


Deixai que a vida sobre vós repouse

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